segunda-feira, 24 de agosto de 2020

Helton Elias | Preto de Deus, Branco de Diabo

 

Preto de Deus, Branco de Diabo

 

Sobre as cores,

patenteio a minha ignorância

Não sei diferenciar o branco do preto

Por quê racialmente o branco é o santo espírito?

Por quê racialmente se dorme quando nasce o escuro?

Por quê racialmente se trabalha quando deseparece o preto puro?

 

As cores têm o significado que a gente assaca

Há anos sepultados o branco tem sido o luto

A brancura amou-me na escravatura

Fico cego nessa cor, na bravura

de Martin Luther King e

Nelson Mandela

Mas noto

nela,

a abundância da neve

desértica da água movidiça e leve

 

 

Sou macaco de cor e pensamento,

experimento do medicamento

para a efermidade sã criada

com metas de extinguir

a minha existência

 

Por motivos

da minha pele negra,

sou aos vossos multicores olhos,

sinónimo certo e literal da peste negra,

mesmo que a doença tenha ovos nos nilhos

da vossa nobre, bem-aventurada e eminente alvura

 

Helton Elias (2020)

Sem comentários:

Enviar um comentário

Helton Elias | N’gambu é Cabo Delgado

  N’gambu é Cabo Delgado   N’gambu enfia-se na gruta da fobia A fobia sofre de hipertimesia A hipertimesia ama N’gambu N’gambu ...